terça-feira, 12 de janeiro de 2010

2010 maquiavélico

Estamos em pré-temporada do ano de eleições – em pré-temporada de 2010 mesmo até o carnaval – e talvez esse seja um ano mais interessante para encher as páginas desse blog. Para começar bem o ano – ou me adiantar a ele – começo com uma polêmica. Claro que com o número de leitores do blog não vai chegar a ser uma polêmica plim plim, mas como esses textos não passam de materialização das minhas masturbações intelectuais, sigo em busca do meu primeiro orgasmo filosófico público do ano: falemos de mensalões e direitos humanos.

Não quero discutir o conteúdo do 3o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), mesmo que eu tenha de lançar mão de alguns exemplos, se o presidente leu ou não antes de assinar o decreto, nem se quem o critica tão vorazmente o leu, ou se os mensalões do PT, DEM e do PSDB são verdadeiros ou, só intriga da oposição. É um pouco difícil definir o tema desse post, pois se eu definir como PMDB, é amplo demais e ainda restritivo, se falar de oposição é restrito demais, mesmo que amplo. Ainda não decidi o título do texto, se fosse Montaigne seria algo do tipo: “Da impossibilidade do PMDB ser oposição, ou da facilidade em eleger-se com apoio do PMDB e da dificuldade para governar o Brasil sem o seu apoio”.

No capítulo IV de O Príncipe, Maquiavel diz que os principados são governados de dois modos: “ou por um príncipe de quem são servidores todos os outros, que, na qualidade de ministros por sua graça ou concessão, o ajudam a governar aquele reino, ou por um príncipe e barões que detêm a sua posição não pela graça do senhor, mas pela antiguidade da sua linhagem”. Tais barões gozam de muito respeito das populações locais e “poderão abrir-te caminho para dentro do Estado e facilitar a tua vitória. Porém para conservá-lo, enfrentarás infinitas dificuldades.

No ano passado o Lula disse que se Cristo quisesse governar o Brasil, teria de fazer aliança com Judas e a Veja não gostou da comparação. Lanço aqui a minha primeira ideia: se Maquiavel fosse brasileiro, no lugar de barão usaria a palavra cacique. Tomando isso por certo, não justificarei mais. A política brasileira é dominada por barões, ou caciques, que, independentemente de quem for governo gozam de grande poder nos seus redutos eleitorais. Nota-se aqui que, apesar de ser uma república, a nossa política comporta-se de forma muito parecida com o segundo modo de governo de principados descrito no parágrafo anterior.

É evidente que há mais fatores para uma eleição, mas essa análise simples já mostra a importância que o apoio do PMDB tem para as eleições presidenciais, mas isso não sai de graça. Aliás, custa muito caro, custa todo o governo e a governabilidade e é nesse momento que o partido fatura com desde Ministérios até cargos de quinto escalão do governo. Sempre sob a ameaça de não ter apoio, de ter a maioria do congresso fazendo oposição e leiloando os votos da próxima eleição.

Dentre outras instituições que se comportam como barões temos também a Igreja. Se não me engano, um bispo da CNBB disse que o projeto é “anti-democrático” (talvez por ousar deixar que as mulheres decidam sobre o seu próprio corpo) e que “daqui um pouco vão querer derrubar o Cristo Redentor”. E para fazer coro, os milicos reclamaram do “revanchismo” do projeto, por propor justiça a torturadores da dita dura.

Isso é democracia, ou deveria ser, pois há debate público. Ao menos teria que me decidir se oposição é bom ou ruim, já que reclamei da falta de oposição no Brasil, mas deixo esse tema para uma outra oportunidade. A questão que coloco é: quais são as condições de possibilidade de um governo no Brasil que se relacionam com o PMDB?

Responde Maquiavel: “O conquistador, que não é capaz de satisfazê-los ou esmagá-los, perderá o Estado na primeira ocasião que se apresentar.”
O Imperador Napoleão comenta: “Absolutamente certo.”
Collor tentou esmagá-los.
Lula pode satisfazê-los?

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